Friday, May 5, 2017

Por terras da raia nordestina

A viagem fez-se por estradas sinuosas em direção a Vinhais, vila muito conhecida pelos seus fumeiros, castanhas e produção vinícola. Breve paragem em Moimenta para visita ao Museu do Contrabando, atividade clandestina que, durante décadas, serviu de sustento a portugueses e espanhóis. De dia tinham tempo para trabalhar nos campos, mas mal o sol se punha faziam-se à escuridão para passar os pesados fardos de café ou azeite ao seu destino. São estes trilhos de memória que ainda estão presentes nas aldeias da raia nordestina e nos “pueblos” da Serra da Sanábria em Espanha. Na aldeia de Lagarelhos, visitamos o maior castanheiro do país, com um tronco que pode ser abraçado por treze homens e por dezoito mulheres ( a ser verificado numa próxima visita). O castanheiro terá à volta de mil anos e pode-se apreciar o seu exterior e também o seu interior, uma vez que está oco por dentro.
De seguida prosseguimos para o centro histórico da Puebla de Sanábria, com as ruas empedradas onde o sabor medieval se sente a cada esquina. Do cimo do castelo tem-se uma visão geral da vila, vila essa muito bem preservada. Interessante é também a visita ao Museu dos Gigantes e Cabeçudos, uma tradição antiga da Sanábria.

O Lago da Sanábria, maior lago glaciar da Europa, onde um impressionante glaciar com línguas de gelo de mais de 20 Km serviu de origem ao atual lago. O espaço circundante do lago é impressionante, com muita vegetação, fauna e flora. Nesta época do ano a paleta de cores da vegetação que circunda o lago é de vários tons de verde a contrastar com a água azul do lago. Seguimos para San Martin de Castanheda, que pela sua magnífica localização sobre o lago influenciou a construção de um mosteiro cisterciense. Ao chegarmos ao local começou a nevar de forma contínua. Os branquinhos flocos de neve, o mosteiro e a paisagem circundante formaram um quadro fantástico, intemporal deste local. Partimos com vontade de voltar muito em breve para conhecer melhor o Lago de Sanábria e toda a sua envolvência. 




















































:)

Monday, March 20, 2017

Chegada da Primavera


ilustrador Robert Bissel

Thursday, March 9, 2017

Celebrar a Vida

 Artista Christian Schloe
Tarde no mar

A tarde é de oiro rútilo: esbraseia.
O horizonte: um cacto purpurino.
E a vaga esbelta que palpita e ondeia,
Com uma frágil graça de menino,

Pousa o manto de arminho na areia
E lá vai, e lá segue o seu destino!
E o sol, nas casas brancas que incendeia,
Desenha mãos sangrentas de assassino!

Que linda tarde aberta sobre o mar!
Vai deitando do céu molhos de rosas
Que Apolo se entretém a desfolhar...

E, sobre mim, em gestos palpitantes,
As tuas mãos morenas, milagrosas,
São as asas do sol, agonizantes...

   Florbela Espanca

Tuesday, February 14, 2017

Dia de São Valentim





Amei-te e por te amar
Só a ti eu não via…
Eras o céu e o mar,
Eras a noite e o dia…
Só quando te perdi
É que eu te conheci…

Quando te tinha diante
Do meu olhar submerso
Não eras minha amante…
Eras o Universo…
Agora que te não tenho,
És só do teu tamanho.

Estavas-me longe na alma,
Por isso eu não te via…
Presença em mim tão calma,
Que eu a não sentia.
Só quando meu ser te perdeu
Vi que não eras eu.

Não sei o que eras. Creio
Que o meu modo de olhar,
Meu sentir meu anseio
Meu jeito de pensar…
Eras minha alma, fora
Do Lugar e da Hora…

Hoje eu busco-te e choro
Por te poder achar
Não sequer te memoro
Como te tive a amar…
Nem foste um sonho meu…
Porque te choro eu?

Não sei… Perdi-te, e és hoje
Real no […] real…
Como a hora que foge,
Foges e tudo é igual
A si-próprio e é tão triste
O que vejo que existe.

Em que és […] fictício,
Em que tempo parado
Foste o (…) cilício
Que quando em fé fechado
Não sentia e hoje sinto
Que acordo e não me minto…

Fernando Pessoa